quinta-feira, 14 de julho de 2016

Caçadores de Paz - Capítulo 7: Blue X Jade (Parte 1)

Alguns dias se passaram e eu estava ainda lá. Vegetando em uma cama de hospital. Sem pernas, sem guilda, sem vida. A única coisa que me restou foi o meu livro e a amizade de Blue, que eu achava que estava sendo ameaçada pelo excesso de atenção que ele estava dando aos caçadores por causa da suposta reaparição de Yambakka.
Estava muito triste e as vezes eu achava que aquela tristeza, fria e maligna, não sairia de mim. Ela estava me mudando um pouco, e essa mudança estava me fazendo mal. Passava horas olhado o ponteiro do relógio completar várias voltas. Na TV, nenhum programa me fazia feliz, mais. Na verdade, nunca fez. Eu ficava, também, hora segurando o CloudBook, pedindo para que minha vida desse certo. Como se aquele livro fosse Deus. Não. Não era.
Resolvi ligar a TV e estava passando um programa de superação. Uma garota que precisou de uma prótese para poder mexer a mão por conta de um acidente elétrico. Eu olhei aquilo e tipo, ignorei. Então eu tive uma ideia. Desliguei a TV e comecei a folhear as minhas “criações” e vi que ali só tinha espadas e mais espadas. Uma só já era o suficiente e talvez eu não precisasse mais delas. Pensei comigo:
“Se eu criei espadas, eu poderia criar um corpo novo. Será isso ser possível? Acho que não. Besteira. ”
Realmente, uma grande e enorme besteira. Imagina. Criar um corpo novo. No máximo criar uma pessoa, um acidente de como aconteceu com o Blue.
Alisando a capa daquele livro que me veio outra ideia. Uma ideia que podia dar certo.
Era minha única saída.
Minha única e última esperança.
Desliguei a luz para me concentrar (tinha um botão do lado da minha cama e eu quase cai dela para poder desligar) e abri o livro. A magia tomou conta da sala e o local ficou todo azul claro, com feixes me rodeando. Normal de quando eu crio coisas (não vou usar mais crio e sim invoco). De quando eu invoco coisas, pronto.
Com os olhos fechados tentei sentir minhas pernas, mas elas não me responderam.
Focalizei na garota que eu vi na TV e senti algo percorrer as minhas pernas. Uma coisa dura e metálica. Na hora eu pensei:
“Poxa! Consegui invocar uma ‘prótese versiana’! ”
Mas não parou por aí. Essa coisa metálica foi pegando em minha barriga, preencheu meu peito e meus braços. Senti uma imensa magia dentro de mim. Uma magia que eu não consigo descrever até hoje. Um poder sufocante que me fazia crer em mudar qualquer coisa, invocar e criar qualquer coisa. O livro se fechou e eu abri os olhos. Olhei para o meu corpo e ELE ESTAVA EM PÉ!
Eu estava de pé e mexi as minhas pernas, sim. Eu estava usando uma armadura preta, bem leve. Não aquelas armaduras enormes medievais e sim com pouco preenchimento corporal. Nos joelhos tinham placas metálicas e de borracha, pretas. Nos cotovelos, a mesma coisa. Parecia mais um colete de artes marciais do que uma armadura, mas era o que era. Armadura.
Mexi as minhas pernas e comecei a “correr sem sair do lugar” para ver a minha movimentação:
— Caramba! Me movo bem melhor do que antes! – Eu gritei para mim mesmo, vendo meus movimentos de volta.
Eu olhei para a janela e não pensei duas vezes. Pulei ela com tudo, mas quando eu vi a altura que eu estava do chão de fora, eu vi a minha morte.
Eu estava, nada a mais, nada a menos, que há vinte metros do chão. E eu caía e caía, sem chance de me segurar em alguma coisa. Quando eu olhei para o chão, meu corpo virou no impulso e eu pousei causando um enorme buraco no chão. E melhor, eu estava ileso:
— Caramba! Isso não é uma armadura! Isso é uma máquina!
A armadura me permitiu cair de vinte metros sem eu me machucar. Jamais um mago conseguiria fazer aquilo. Pelo menos um mago que eu conheça:
— Preciso mostrar isso ao Blue! Ele vai ficar muito orgulhoso de mim!
Quando eu comecei a correr, a armadura desapareceu e eu cai com tudo no chão, sem sair do lugar. A armadura sumiu e sem ela, o movimento das minhas pernas era inexistente. Bati a cabeça e desmaiei.
                                                                        ---x---
Blue estava andando normalmente pela floresta. Estava indo me visitar quando algo se mexeu atrás da moita que ali tinha:
— Quem está aí?! – Gritou ele, olhando para todos os lados. – Apareça quem quer que seja.
Uma risada tomou conta do local e ele não sabia de que direção vinha. Uma risada feminina, familiar e irritante. Foi quando Jade apareceu e tentou acertá-lo com um facão de cabo longo, mandando chamas negras:
— Vou matar você! Desgraçado! - Blue se esquivou e pegou distancia de Jade. Ela estava disposta a mata-lo, já que era o que o Deus Menor tinha ordenado a ela. – Se eu não matar você, ele me mata!
Blue se lembrou e perguntou:
— Era você no centro, não era? Foi você quem causou aquela explosão?
— Não devo satisfação para você! Não vejo necessidade de você saber os meus planos.
Blue ficou nervoso. Tinha certeza que era ela, ainda mais pela roupa que ela estava vestindo. A mesma roupa da mulher do centro. Sem sombra de dúvidas, Blue começou a alongar o seu corpo. Estava prestes a brigar:
— Foi você quem machucou Anark, não foi? Foi você que matou aquele monte de gente no centro? Você roubou o que daquela loja de armas mágicas? Qual o plano da Yambakka?
Assustada, Jade deu um passo para trás. Ela estranhou:
— Como assim? Você conhece a Yambakka? Quem te disse isso?
— Você acaba de confirmar que matou aquele monte de gente, que roubou alguma coisa da loja de armas mágicas e que a Yambakka tem um plano. Não têm melhores motivos para eu derrotar você e te levar até os Caçadores.
— Você não sabe de absolutamente nada, Blue. O que eu sei é que me ordenaram para matar você. Você põe nossos planos em risco e Deus Menor quer a sua cabeça.
Blue gargalhou, zombando da cara de Jade:
— Você é muito tola! Além de dar um motivo para eu derrota-la, deu-me um motivo para eu ficar vivo! Essa luta já está ganha. Você pode até tentar alguma coisa.
Jade pegou seu machado negro e fez outro surgir dele:
— Você não sabe nada sobre o estado atual da Yambakka! Você não sabe o quão forte ficamos desde o último encontro que os seus novos amigos, os Caçadores, tiveram com a gente. A Yambakka está absurdamente forte e com planos mais silenciosos e perigosos. Vamos revidar com o mundo o que ele fez com os magos. Ele, o Deus Menor, virá para nos livrar daqueles que desejam comandar tudo em nome da paz. Ele odeia a paz. Ele é terrível e você desconhece seu poder.
— Conte-me mais de seu deus, Jade! – Blue, misteriosamente, sabia seu nome. Nem ele sabia como ele sabia. Estranho, não? Muito estranho.
— Não vou citar sua pessoa em vão. Apenas irei fazer o que ele me recomendou. Vou pegar o seu corpo, fatiar ele em milhões de pedaços e comer um por um. Já viu o poder de um Yambakka? Ele supera o poder te todos os caçadores juntos. Você conhecerá o poder de uma maldição.
Blue se sentou, pegou uma flor e começou a arrancar suas pétalas. Tranquilo, ele olhou para Jade (que estava estranhando a atitude do seu inimigo tão calmo) e provocou:
— Você diz que seu deus odeia a paz. Como alguém odeia aquilo que ela mais teve?
— Como assim? O que você está falando?
— Esquece! Está vendo o que eu estou fazendo com essas pétalas? Estou arrancando todas. Essa é minha magia. Eu amo a natureza e quando eu destruo algo dela, eu fico absurdamente forte. Tão forte que quando eu estalar os meus dedos, você não terá mais seu braço esquerdo.
Jade riu:
— Há! Há! Há! Que blefe mais escroto é esse! Ninguém é capaz de... – Ela foi interrompida quando Blue estalou os dedos e seu braço esquerdo explodiu. O sangue manchou todas as folhas que tinham naquele chão e sujou o rosto de Blue, o deixando irritado.
Jade começou a gritar absurdamente. Seu braço tinha acabado de explodir e o buraco que tinha em seu ombro não parava de manar sangue.
Blue tinha tanto poder assim? Destruía algo da natureza, ficando mais forte a ponto de desmembrar uma pessoa com um estalar de dedo? Não perca as cenas dos próximos capítulos, galerinha! O desfecho da luta do meu misterioso amigo, Blue, com a desmembrada Yambakka, Jade. Não percam. (Adorou esse final, né?)

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