quinta-feira, 14 de julho de 2016

Caçadores de Paz - Capítulo 5: TRAGÉDIA

Bom, a velha queria mesmo era roubar a Zero (Espada de Diamante que a minha facção teria de pegar e devolver ao verdadeiro dono em troca de milhões como recompensa), independente se fosse necessário acabar com quem quisesse a impedir.
Voltando à cidade, estávamos eu e Blue caminhando pelo centro. Estava dia ainda e o sol estava derretendo até o mais rígido dos metais. Sério, estava muito quente mesmo. Muito muito mesmo. Eu e ele estávamos procurando algo para comer. No dia anterior recebemos a visita da líder da Caçadores (adorei esse nome), a Ivy (ou Darcy Ivy), então estávamos famintos. Na verdade, era que ela tinha chegado um pouco antes da janta e a conversa tomou conta e esquecemos de comer. Então estávamos famintos e queríamos algo para tirar a barriga da miséria.
Entramos em uma lanchonete muito chique e que tinha de tudo para comer: doces, salgados, bebidas em demasia, tudo de bom. E o melhor: estava vazia. Podíamos escolher aonde nós queríamos sentar. Fomos no canto, onde pudéssemos observar tudo e todos.
Chamei o garçom e ele veio, com um cristal flutuante na mão. Eles usavam aquilo para fazer o pedido e tudo que falávamos iria direto para cozinha e no mesmo instante eles começavam a preparar. Tudo muito rápido.
O meu pedido foi um lanche de quatro queijos com pimenta e do Blue foi... um copo d’água:
— Eu estou de regime, desculpa, Anark.
Desde quando Blue fazia regime? Há dias ele estava comigo e nunca me disse nada, mas enfim, eu não me importei. Era bom ele fazer regime, estava tão forte que eu chegava me confundir o que era músculo e o que era gordura. E cá para nós, gordura não é bom no campo de batalha. Disse isso para ele? NÃO! Tudo que eu comentava sobre ele resultava em ele pegar eu pelo colarinho, me levantar e me perguntar: “Você acha que eu sou um objeto? ”. Sério, eu odiava quando ele perguntava isso. De todas as vezes que isso aconteceu eu nunca quis citá-lo como objeto. Nunca... eu acho.
Ele estava com o suco dele, depois de alguns minutos e meu lanche demorou mais um pouco para chegar, mas quando chegou, eu devorei feito um leão.
Conversa ia, conversa vinha, e o local começou a encher e aquilo começou a me incomodar. Não gostava muito de gente. Digo, não gostava muito de muita gente perto de mim. Até que ela se sentou e eu não me importei para quantas pessoas estavam no lugar:
— Oi, boa tarde! Posso me sentar?
Eu estranhei. Nunca tinha visto aquela garota e o retardado do Blue permitiu que ela sentasse:
— É claro que sim. Como você chama?
— Meu nome é Lilian! Sou da mesma guilda de que vocês. Sou a nona da lista de posse, então isso quer dizer que tenho um tempo de caçadora, já. E vocês? São novos, não são?
Lista de posse? Há muito tempo eu não ouvia falar sobre isso. Lista de posse é um “ranking” sequencial de magos de uma guilda/facção. Por exemplo, se um mago foi o terceiro a entrar na guilda quer dizer ele será o terceiro a assumir o cardo de liderança. Isso caso o primeiro da lista (que sempre é o líder) sair, o segundo da lista se tornar líder e depois sair, aí sim o terceiro entra. É essa a ordem de liderança, ou no caso, ordem da lista de posse. Existem guildas tão numerosas que tem mais de um líder. Então a lista de posse corre mais facilmente.
Voltando ao lugar que a gente estava, eu respondi Lilian, dizendo que era novo sim e que tinha conseguido a vaga no Torneio das Vagas. Ela sorriu e disse que tinha se lembrado de mim. E que, também, me viu tomando uma surra do Grimlock:
— Desculpa te falar, é que andam comentando que você venceu ele por sorte.
Vencer ele por sorte? SORTE? Eu estava mal falado? Era o meu fim. Tinha que fazer alguma coisa para que tirassem o meu nome da boca do povo:
— Não foi sorte, não, Lilian. Se o vencemos é que lutamos duro. Mesmo se não foi fácil e o Anark apanhou ridiculamente. Ele venceu assim que me criou, então ganhamos de Grimlock. – Blue me defendeu, só que não. Fiquei envergonhado com a parte de que apanhei ridiculamente.
— Claro, não irei discordar de vocês. Na verdade, eu vim aqui para conversar sobre algumas regras dos caçadores. Na nossa guilda, nem todos são unidos. Não estou dizendo que somos rivais um dos outros. Estou dizendo que todos os magos vivem ocupados com trabalhos. Por sermos mais populares, recebemos dezenas de trabalhos por mês e o nosso objetivo em relação a isso foi zerar a cada fim de mês todos os trabalhos recebidos. Por isso os Caçadores se dividem em grupos, para que os trabalhos fiquem mais fáceis. Os que tem mais afinidade com os outros formam grupos. E eu estou aqui para formar um grupo com vocês dois. Será um grupo de cinco magos no começo.
Eu pensei bem. Estava tudo muito estranho. Ela chega ali, zomba da minha cara e pede para eu formar um grupo com ela? Na dúvida eu perguntei:
— Cadê o seu grupo?
Ela baixou a cabeça e seus olhos encheram de lágrima:
— Acredito que vocês foram comunicados pessoalmente pelo assassinato coletivo que envolveu metade da nossa guilda. Metade dos caçadores morreram e entre eles estavam meus dois melhores amigos. Éramos o trio mais forte da guilda. Em uma semana conseguimos zerar todos os trabalhos que recebemos em um mês. Cada um com a sua letra, formávamos um belo alfabeto. Eu perdi as minhas letras. E eu quero formar um novo alfabeto. Um novo grupo. E eu tenho brigado com todos os outros magos da guilda. Eu estava tão determinada a encontrar o assassino que eu me desviei de todos, sendo grosseira e ignorante. Tentei me reaproximar, mas não consegui. Então a mestre Ivy, ou Darcy como ela se apresenta para alguns, me disse que um mago poderosíssimo e de bom coração tinha acabado de entrar e que eu poderia ser uma necessária aliada e guia. Ela me pediu para que caso eu conseguisse formar um grupo com vocês, ajuda-los em todas as dúvidas e obstáculos, já que quando vocês irem ao castelo da guilda vão precisar de uma ajudinha. Desculpa a enrolação, há muito tempo não tenho essa oportunidade de falar muito. Vocês querem fazer um grupo comigo?
Eu pensei muito. Olhei para Blue e ele estava comovido. Não conhecia ninguém da guilda a não ser a líder. Eu resolvi aceitar. Não tinha nada a perder. Lilian deu um grito de alegria e todos do local – que tinha enchido para caramba – olharam para a gente. Fiquei com vergonha. Ela foi embora, eu e Blue pagamos a conta e saímos.
Estávamos andando novamente pelo centro e eu comecei a comentar com o Blue:
— Viu o que ela disse? Que dois magos do melhor grupo de uma das melhores guildas da cidade foram mortos por uma pessoa só. Eu estou com medo de ser o próximo.
Blue ficou irritado e disse:
— Novamente com esse papo de medo de ser morto, Anark? Quantas vezes tenho que te falar que eu vou te proteger?
Preocupado, eu respondi:
— Esse é o problema.
— Eu te proteger? Se quiser é só rasgar a página do teu livro. – Blue se fez de vítima, mais uma vez.
— Não é isso. É de você tentar me proteger e morrer primeiro do que eu.  Eu gostei de você, Blue. Minha melhor criação, se posso usar essa palavra.
— Sei bem que os magos criadores se apegam pelas suas criações, mas não é para tanto. Se eu morrer você cria outra pessoa.
— Mas eu nunca mais vou te ver.
Blue sorriu e me aliviou:
— Se eu morrer nesse mundo eu volto para Verso. A diferença é que eu nunca mais poderia te ver e você não poderia mais me criar. E nenhum outro mago criador poderia me criar, invocar, sei lá. Vou começar a usar invocação, ao invés de criação. É mais lógico.
— Ah! Pelo menos você vive em Verso.
— Mas eu morro de fome. Esse é o trabalho da maioria dos Versianos. E eu não sei fazer outra coisa além de lutar.
— Lá não tem MMA?
— O que é isso? – perguntou Blue, fazendo uma cara engraçada de dúvida.
— Deixa para lá! Você ia morrer de fome mesmo. Talvez você poderia limpar os objetos que os magos criadores invocam.
— Não adianta explicar. Você está querendo me matar, é? Quer por que quer que eu arranjo outro emprego.
— Não! Há! Há! Não é isso. É que eu gosto de saber sobre Verso e os Versianos.
— Nunca mais eu quero ir para lá.
— Porquê?
— Por que não quero, oras. Enjoei daquele mundo. Tudo muito estranho, aqui as pessoas são mais verdadeiras. Lá também tem muita gente feia, nem todos os Versianos se parecem com humanos, como eu. Tem desde insetos humanoides até gigantes de gelo andando pela rua como se fosse normal. Aqui isso ia dar uma baita duma encrenca.
— Imagino! Há! Há! Há! VOU PEGAR VOCE E CONGELAR VOCÊ! MUAHAHAHA! – eu gritei, imitando um gigante de gelo engrossando a voz e entortando o corpo. Blue gargalhou, mas logo depois me pegou no braço e me colocou atrás dele.
Uma mulher parou na nossa frente. A segunda do dia. Ela usava um sobretudo preto com capuz vermelho, ao contrário de Lilian que era muito linda:
— O que vocês estão fazendo na minha frente, seus idiotas? Saiam! Eu tenho uma coisa para tomar! – disse ela, passando quase que por cima da gente.
Eu não entendi nada. Não vi necessidade do Blue me proteger contra uma mulher encapuzada apressada. Eu olhei para ele e vi seu ar de raiva e fúria:
— Essa magia. É esmagadora! Mal consigo respirar. Estranho...
— O que é estranho, Blue? É só uma mulher com pressa.
— Não é só isso! O símbolo que está nas costas do sobretudo dela. Uma serpente. Já vi isso em algum lugar. Acredito que deva ser uma guilda bem organizada. E bem sigilosa, pelo visto. Você conhece essa guilda?
Quando eu olhei a mulher, ela tinha virado a esquina. Respondi:
— Não! Nunca ouvi falar. Será que é uma guilda clandestina?
— Eu não sei. Nem sei porque perguntei para você. Sei de tudo à sua volta e não consegui saber dela, então obviamente você também não sabe. Vamos andando. Deve ser bobagem.
Assim fizemos. Começamos a andar, mas um incidente aconteceu. Uma loja de espadas mágicas que estava do nosso lado explodiu. Tanto eu quanto Blue voamos longe. Tinha muita gente próxima ao local, então não fomos os únicos incidentados. Eu consegui ver que Blue caiu sobre um carro, quebrando todos os vidros e o amassando. Eu bati minhas costas com tudo no poste, envergando todo o meu corpo. Depois de alguns minutos Blue me acordou, gritando desesperadamente:
— Anark! Acorda! Anark! Acorda!
Eu acordei, olhei o Blue e vi toda aquela gente morta no chão. Eram braços para um lado, sangue para outro. Um cenário de guerra. Mas eu tentei me levantar e não consegui. Aquele acidente mudara a minha vida para sempre:
— Blue! Blue! Não estou sentindo as minhas pernas, Blue! – eu comecei a chorar e uma outra explosão veio a ocorrer, mas Blue me abraçou, protegendo-me.
— Fique calmo, Anark. Eu vou cuidar de você para o resto da minha vida.

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